segunda-feira, 20 de abril de 2009

ARTE: Um olhar sobre seu significado - parte B

Todo povo tem o direito de ter, sentir, cantar e apreciar a sua música. Não é possível considerar a música como algo à parte na vida dos indivíduos. Por concebê-la como um fenômeno vivo da criação de um povo. Também não pode ser considerada um enfeite, uma diversão das elites. A música é superior a tudo isso, ela é a própria voz da nação.


Schopenhauer (apud. READ, 1978, p. 19) "foi o primeiro a dizer que todas as artes aspiram à condição da música". Tal observação provocou divergências, apesar de ser considerada verdade. Aquele filósofo encarava as qualidades abstratas da música por ser possível, ao artista, dirigir seu apelo diretamente ao público, dispensando a intervenção de um meio de comunicação de uso comum para outros fins.


[...] O papel da arte na educação é grandemente afetado pelo modo como o professor e o aluno vêem o papel da arte fora da escola.[...]. Uma educação pela arte não é, necessariamente, anticientífica, pois a própria ciência depende da clara manifestação de fenômenos sensoriais e é, forçosamente, retardada pelo "jogo da linguagem". Mas uma educação pela arte não prepara os seres humanos para os atos irracionais e mecânicos da indústria moderna, não os concilia com um lazer destituído do propósito construtivo, não os deixa satisfeitos com o entretenimento passivo. (READ, 1968, p. 33)


Deve-se ter uma visão ampla, pois a arte está em toda parte, na vida que passa. Até onde a mão e a presença humana alcançam, o ato criador está presente. A arte contemporânea não é mais comportada, ela é efêmera. Convive-se com a arte, que ultrapassou as portas dos museus.


Os trabalhos com obras de arte devem estar relacionados com a apreciação, a contextualização, no seu tempo e espaço, porque a arte não está separada da economia, política e dos padrões sociais que operam na sociedade. Estes trabalhos poderão ser um fator determinante para a transformação da educação, formando indivíduos capazes de perpetuar e transformar a arte como artistas ou apreciadores. (BARBOSA, 1999, p.57).


Necessário nesse caminho será a criação de novos valores, já que esta transformação se constitui em ameaça aos atuais sistemas. O processo de criação efetiva-se em duas vertentes. Como educadores, percebe-se pelo lado de fora; como artistas, ele é visto por dentro; e ambos os processos integrados, constituem o ser humano completo. Educa-se para promover a inteligência, para promover a atividade, para assegurar o progresso. Arte-educação é epistemologia da arte e, portanto, é a investigação dos modos como se aprende arte na escola, quer seja no ensino fundamental, médio ou superior, ou mesmo na intimidade dos ateliers.


Hoje em dia, dentro de uma visão fenomenológica, considera-se o belo como uma qualidade de certos objetos singulares que são dados à percepção. O objeto é belo porque realiza seu destino e carrega um significado que só pode ser percebido na experiência estética. Cada objeto singular estabelece seu próprio tipo de beleza. O belo e a expressão artística são atingíveis somente pela interpretação mental e, por conseguinte, se constituem objetos apenas de sentimento estético superior.


Diferencia-se o sentimento estético diante dos demais sentimentos comuns, em vista de serem estes últimos produzidos pelos objetos comuns e não pelos artísticos e belos. Por outro lado, afirma-se que a atitude que propicia a experiência estética, em arte, ocorre gratuitamente, isto é, não visa a um interesse prático e imediato. No entanto, não se pode-entender a gratuidade dessa experiência como inutilidade, uma vez que ela responde a uma necessidade humana e social. Tal enfoque é feito por Dewey, (1952, p. 54): "O princípio de que o desenvolvimento da experiência se faz por interação do indivíduo com pessoas e cousas significa que a educação, essencialmente, um processo social".


A experiência estética não visa ao conhecimento lógico medido em termos de verdade e ação imediata nem pode ser julgada por sua utilidade para determinado fim. Ela se dá pela presença tanto do objeto estético como do sujeito que o percebe, manifestando acordo entre a natureza e o sujeito numa espécie de comunhão, cuja via de acesso é o sentimento. Esse sentimento, portanto, não é emoção, é conhecimento.


Criar e conhecer são indissociáveis, e a flexibilidade é condição fundamental para aprender. Não conhecer arte é ter uma aprendizagem limitada. A arte produz conhecimentos e envolve a experiência de refletir como objeto do conhecimento.


Ao contrário do que se pensa, o conhecimento, muitas vezes, é obtido pelas observações efetivadas pelos sentidos:

Daquilo que eu sei

Nem tudo me deu clareza

Nem tudo foi permitido

Nem tudo foi concebido

Daquilo que eu sei.[...] (LINS, 1980).


Por outro lado, as propriedades psicológicas da arte importam, sobretudo, pelos efeitos que exercem sobre o comportamento do indivíduo.


Considera-se a esteticidade como uma das propriedades psicológicas da arte. Trata-se de um sentimento de satisfação provocado pelo conhecimento. Portanto, a esteticidade da arte pode ocorrer em dois níveis.


A esteticidade do significante é pré-artística e decorre do portador material da obra de arte. As formas da escultura, antes mesmo de serem portadoras de expressão, podem manifestar-se como belas. O mesmo pode acontecer com as cores da pintura e os sons da música, apreciáveis esteticamente no momento pré-artístico.


Já a esteticidade como significado é artística, resulta da informação contida na expressão. Essa informação proveniente da arte é sempre intelectual, porque somente a inteligência consegue interpretar o que a arte diz.


Ambas as esteticidades são apreciáveis propriedades da Arte, mas é preciso distingui-las com clareza. Conseqüentemente, a esteticidade propriamente artística é sempre de ordem superior, situada no plano do sentimento racional. A esteticidade pré-artística situa-se a nível racional quando se trata do belo.


Nessa perspectiva, observe-se como é focalizada a beleza sob a ótica do compositor Caetano Veloso: Não me amarra dinheiro não

Mas formosura

Dinheiro não

A pele escura [...]

Moça preta do Curuzu

Beleza pura [...] (VELOSO, 1987)


Percebe-se, assim, como a estética, freqüentemente, aparece ligada à noção de beleza. É exatamente por causa dessa ligação que a arte vai ocupar um lugar privilegiado na reflexão estética, já que, durante muito tempo foi considerado como sua função primordial exprimir a beleza de modo sensível.


Assim sendo, a função estética da obra de arte é aquela que instaura um jogo de linguagem em torno de um objeto significante: de um lado está o artista, o criador do objeto; de outro, está o contemplador, o intérprete dos conceitos estéticos que o artista tem a intenção de juntar ao objeto significante.


A esteticidade é um sentimento de satisfação provocado pelo conhecimento quando considerado como um bem. Resolver um simples problema da matemática resulta em prazer, que é de natureza estética, por ter provocado um conhecimento. Neste mesmo plano do conhecimento também a arte gera esteticidade.


Se conhecimentos sensíveis são um bem para faculdades sensíveis, seu agrado estético é, também, sensível. Da mesma forma, se os conhecimentos intelectuais são um bem para a faculdade da inteligência, seu agrado estético é, por sua vez, racional.


Sempre que as ciências produzem conhecimentos, por mais diversos que estes sejam, resultam em esteticidade. Varia o grau de esteticidade da arte conforme o objeto que se apresenta. Assim, percebe-se por que a música é considerada como a mais estética entre todas as artes. Sumamente prazerosa, a música é a mais agradável das expressões artísticas. "Mais agradável que a música, só mesmo o silêncio". (DANTE VEOLECI, [s.n.t])


Os objetos abstratos, que a arte formal oferece, apesar de seu intelectualismo, também são capazes de provocar sentimento estético. Assemelha-se a esteticidade da arte abstrata a esteticidade dos objetos científicos, tais como os da matemática ou da filosofia. É notório que a súbita solução de problemas matemáticos, filosóficos, sobretudo transcendentais despertam grande satisfação.


Das relações entre a arte e os homens resultam três diferentes concepções da arte: a arte como ciência; a arte como experiência estética e a arte como conhecimento. Assim sendo, questiona-se: Que relações existem entre a reação estética e as demais reações do homem? Como se relacionam arte e vida? Numa complexidade de inter-relações, diz Vygotsky, (1998, p. 259): A reação estética lembra o fato de tocar piano: é como se cada componente da obra de arte tocasse a respectiva tecla sensorial do nosso organismo, recebendo como resposta um som ou um tom sensorial, e toda reação estética fosse constituída de impressões emocionais que surgem como resposta aos toques nas classes.

Isso significa que a arte pode criar uma imensa necessidade de atuar. Dependendo daquilo que libere ou reprima, ela pode nos impulsionar a aspirar além da vida. Surgindo da vida e para ela se dirigindo, o papel da arte é fundamental como atitude dialética de edificação da vida, tanto que era exercida por curandeiros ou sacerdotes que compreendiam o mundo de forma mítica.

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